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Universidade Federal do Ceará
Grupo de Atenção Integral e Pesquisa em Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa – GAIPA UFC

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ACUPUNTURA

Data de publicação: 10 de novembro de 2021. Categoria: Sem categoria

– O que é Acupuntura?

Acupuntura é um recurso terapêutico originado da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) a mais de 3 mil anos que envolve a estimulação de pontos específicos no corpo utilizando agulhas filiformes ou outros meios como a pressão do dedo (acupressão), o laser (laseracupuntura), a estimulação elétrica (eletroacupuntura) e a estimulação térmica (moxabustão) visando promover e recuperar a saúde e a funcionalidade.

Ela é considerada um patrimônio cultural intangível da humanidade pela UNESCO desde 2010, e no Brasil é exercida tanto como uma profissão técnica de nível médio (CBO 3221-05) como uma Prática Integrativa e Complementar multiprofissional pelas profissões da saúde (Portaria nº 1.988 / 2018 do Ministério da Saúde), sendo institucionalizada no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2006 pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC).

 

– Como funciona a Acupuntura?

Apesar de atualmente a acupuntura ser aplicada sob diferentes referenciais teóricos e racionalidades, como a tradicional (MTC, japonesa, coreana, francesa, dentre outros) e a ocidental (neurofisiológica), seus efeitos no corpo, do ponto de vista da plausibilidade biológica, podem ser explicados por mecanismos de ação muito semelhantes que ocorrem tanto no corpo humano como do animal.

Sabe-se que a acupuntura parece promover efeitos analgésico, anti-inflamatório, antioxidante, ansiolítico, anti-hipertensivo, dentre outros, mas é para a dor que se tem um maior número de pesquisas científicas e conhecimento sobre os mecanismos de ação envolvidos.

Nas condições de dor, o efeito analgésico promovido pela acupuntura pode ser explicado pela sua ação a nível local, segmentar, extrassegmentar e central regulador. Quando a agulha é punturada no corpo pode desencadear a estimulação de diferentes tecidos como a pele, a fáscia, o músculo e a cortical óssea, dependendo da região e da profundidade do agulhamento, que pode variar de milímetros a centímetros.

O agulhamento estimula as extremidades nervosas livres a produzirem potenciais de ação (aferências) que desencadeiam a liberação de neuropeptídeos locais (Peptídeo relacionado ao gene da calcitonina-CGRP, Gene de crescimento do nervo-NGF, Neuropeptídeo Y, Histamina), que causam vasodilatação, aumento do fluxo sanguíneo e a formação de novos vasos sanguíneos na região, facilitando o reparo tecidual. O estímulo mecânico da manipulação da agulha também pode promover ativação do receptor de adenosina A1 na célula contribuindo para o efeito antinociceptivo e a reorganização da arquitetura e da força do tecido conjuntivo.

O efeito do agulhamento também repercute no sistema nervoso central, no qual o estímulo da pele e músculos estimula a liberação de encefalina inibindo a atividade das células da substância gelatinosa no corno posterior da medula, bloqueando assim a transmissão da dor desencadeada por um estímulo nocivo e promovendo analgesia segmentar nas estruturas inervadas pelo mesmo segmento espinhal.

O agulhamento também desencadeia a liberação de peptídeos opioides no cérebro (betaendorfina, endorfina e dinorfina) que são neuromoduladores da dor, e de serotonina no tronco cerebral causando a ativação do sistema inibitório descendente, atuando sobre o componente sensorial da dor.

Já seu efeito sobre a dor com componente nociplástico ou psicogêncio, comum nos quadros de dor crônica por mais de 3 meses e com a presença de componentes afetivo e emocional, estudos em humanos utilizando a coleta de imagens do cérebro por ressonância nuclear magnética funcional mostram que a acupuntura promove aumento de sinal hemodinâmico na insula anterior e diminuição nas estruturas límbicas e paralímbicos (amígdala, hipocampo anterior, córtice cingulado, dentre outros). Este efeito parece não depender da especificidade e nem do local de agulhamento, o que explica a melhora vista nos ensaios clínicos randomizados para os grupos controles tratados com acupuntura sham com agulhamento superficial fora dos pontos de acupuntura.

Para acesso as referências sobre a plausibilidade biológica da acupuntura acesse <https://gaipa.ufc.br/pt/sintese-das-evidencias/pesquisa-basica-plausibilidade-biologica/>.

 

– Para quais problemas de saúde a Acupuntura é recomendada?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a acupuntura para o cuidado dos pacientes com portadores das mais diversas condições de saúde, como dor, insônia, ansiedade, depressão, rinite alérgica, asma, constipação, dentre outras.

A acupuntura também é recomendada pelas melhores e mais atuais guidelines (diretrizes clínicas) para o tratamento de condições específicas de saúde, como exemplo os guidelines da The National Institute for Health and Care Excellence (NICE) de 2021 e da Scottish Intercollegiate Guidelines Network (SIGN) de 2019 que recomendam fortemente a acupuntura como primeira linha de tratamento para manejo da dor crônica, seja como monoterapia ou associada a outros tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, como o exercício terapêutico. Os guidelines da American College of Physicians (ACP) de 2017 e da The Lancet Back Pain Series Working Group de 2018 recomendam acupuntura para o tratamento da dor lombar crônica, o da American College of Rheumatology (ACR) de 2020 para tratamento da osteoartrite de joelhos, o da Ontario Protocol for Traffic Injury Management (OPTIMa) de 2021 para tratamento dos distúrbios dos tecidos moles do ombro, o da European League Against Rheumatism de 2017 para fibromialgia.

Já revisões sistemáticas com metanálise do grupo Chocrane mostram que a acupuntura também pode ser eficaz para o tratamento de outras condições de saúde, como a síndrome do ovário policístico, a síndrome pré-menstrual, a prostatite crônica/síndrome da dor pélvica crônica, dentre outras.

Mais guidelines que recomendam acupuntura para o tratamento da dor podem ser acessados no link <https://gaipa.ufc.br/pt/sintese-das-evidencias/diretrizes-clinicas-guidelines/>.

Revisões sistemáticas do grupo Cochrane e outras podem ser acessadas no link <https://gaipa.ufc.br/pt/sintese-das-evidencias/revisoes-sistematicas-e-metanalises/>.

 

– Há contraindicações para Acupuntura?

A acupuntura é considerada um tratamento seguro desde que realizada por profissional com formação adequada. Ela pode desencadear efeitos adversos leves e transitórios, que vão da presença de hematoma e dor no local de estímulo, pequenos sangramentos no ponto estimulado, sonolência e desmaio, que são facilmente resolvidos e que regridem rapidamente.

Acupuntura não possui contraindicação absoluta, mas sim relativa, dependendo da população e da presença de condições de saúde específicas, como em recém nascidos, gestantes, portadores de marca-passo, sobre áreas tumorais e dermatites.

A ocorrência de eventos graves como pneumotórax ou perfuração de órgãos e infecções são raros, e estão relacionados a prática inadequada por pessoas sem formação. Por isso, é importante ressaltar que para realização da acupuntura é necessário formação profissional específica, e que a OMS estabelece diretrizes com conteúdo, grade curricular e carga horária mínima para formação e prática dos profissionais acupunturistas.

 

– Como é realizado o tratamento com Acupuntura?

A acupuntura está presente no SUS nos três níveis de atenção à saúde, em serviços públicos e privados, e dados disponíveis no DATASUS sobre a produção ambulatorial da sessão de acupuntura com inserção de agulha nos últimos 10 anos mostram que este procedimento foi realizado de modo multiprofissional pelas diversas categorias profissionais da saúde, como fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, enfermeiro, biomédico, farmacêutico, médico, profissional de educação física, cirurgião dentista, psicólogo, nutricionista, dentre outros.

O tratamento comumente é realizado com frequência semanal, por cerca de 6 a 10 atendimentos, com duração de 20 a 40 minutos, e utilizando não só o uso da agulha de acupuntura mas também outras formas de estimulação, como a moxibustion, eletroacupuntura, laseracupuntura, acupressão e Auriculoterapia. A frequência de atendimento, duração e número de sessões pode variar dependendo do problema de saúde e evolução do caso.

A pessoa interessada em receber o tratamento pode procurar diretamente o profissional ou serviço que oferta acupuntura no âmbito privado, ou então no sistema público desde que este permita a demanda espontânea. Já na saúde suplementar e nos níveis secundário e terciário de saúde nos serviços do SUS, é necessário possuir encaminhamento do profissional de saúde.

A prática da acupuntura não é restrita a nenhuma categoria profissional, sendo ela multiprofissional no SUS, e está tramitando no congresso nacional o Projeto de Lei n° 5983, de 2019 e outros com objetivo de regulamentar a profissão de acupunturista.

A PNPIC ao institucionalizar a acupuntura e outras PICS no SUS em 2006 ampliou o acesso a estes serviços, que antes era limitado a quem conseguisse pagar pelo procedimento no setor privado, e promoveu o direito da população em receber um atendimento integral que não se restrinja a enfermidade mas considere as dimensões biológica, psicológica e social do indivíduo no seu processo de cuidado, desenvolvendo o vínculo terapêutico, o incentivo ao autocuidado e a integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade.

 

– Como a Acupuntura e outras PICS estão sendo desenvolvidas nas universidades?

Dentre as 29 Práticas Integrativas e Complementares em Saúde institucionalizadas no SUS pela PNPIC, a acupuntura é a mais popular e pesquisada nas universidades.

Originalmente, seu ensino acadêmico e pesquisa iniciou nas universidades e hospitais de MTC na China, como os de Beijing, Tianjin, Nanging, dentre outros, mas a partir da década de 70 despertou o interesse do ocidente sendo inserida nas universidades da Europa e Estados Unidos, tendo destaque o Instituto de Medicina Complementar e Integrativa do Hospital Universitário de Zurique e o Centro de Medicina Integrativa da Universidade de Maryland.

No Brasil a acupuntura está presente nas universidades através das disciplinas de graduação, cursos de especialização e disciplinas e linhas de pesquisa em programas de mestrado e doutorado, bem como nas ações de extensão. Um exemplo é o Grupo de Atenção Integral e Pesquisa em Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa, do Departamento de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, que oferta ações de educação permanente, atendimentos individuais e grupos de práticas corporais integrativas (meditação, tai chi e qigong) na atenção primária à saúde.

Informações sobre alguns dos Programas de Pós-Graduação Stricto Senso e orientadores de mestrado e doutorado que desenvolvem pesquisas com Acupuntura e as PICS da MTC podem ser acessadas no link <https://gaipa.ufc.br/pt/sintese-das-evidencias/diretorio-de-pesquisadores-em-acupuntura-e-medicina-tradicional-chinesa/>.

 

Texto elaborado pelo Prof. Dr. Bernardo Diniz Coutinho
Fisioterapeuta e Acupunturista, Docente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Programa de Mestrado Profissional em Saúde da Família da UFC/RENASF/Fiocruz, coordenador do projeto de extensão Grupo de Atenção Integral e Pesquisa em Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa (GAIPA-UFC).
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