Por que utilizar PICS no tratamento do indivíduo com dor?
Data da publicação: 28 de novembro de 2019 Categoria: Sem categoriaTexto produzido para a página da RedePICS Brasil, disponível no site <http://redenacionalpics.wixsite.com/site/single-post/2019/07/26/%E2%80%8B-%E2%80%8B-Por-que-utilizar-PICS-no-tratamento-do-indiv%C3%ADduo-com-dor>.
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A dor é uma condição de saúde comum e uma das principais causas de procura pelos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento convencional comumente realizado envolve o uso de medicamentos e cirurgias, entretanto, nas últimas décadas recursos terapêuticos como exercício físico e Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) vêm sendo cada vez mais recomendados por entidades de saúde e respaldadas por evidências científicas.
Em países desenvolvidos como Estados Unidos, Suíça, França, Alemanha e Reino Unido, as PICS são amplamente utilizadas pela população para o tratamento da dor, e os gastos com alguns destes tratamentos são reembolsados pelas seguradoras e sistemas de saúde (1,2). No Brasil, as PICS foram institucionalizadas e estão disponíveis no SUS desde 2006 (3) sendo realizadas de forma multiprofissional pelos diversos profissionais da saúde com formação na área, seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), maior autoridade em saúde pública no mundo(4).
Dados do IBGE (5) mostram que, dentre as condições crônicas de saúde, a dor lombar é a segunda mais prevalente na população, acometendo 18,5% dos indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos. Cerca de 95% dos casos de dor lombar com duração maior que 3 meses não possuem uma causa específica, como neoplasia, fratura e infecção, e seu tratamento deve ser realizado de modo conservador sem a realização de exames complementares e cirurgias, procedimentos que só aumentam os custos do sistema de saúde sem propiciar benefícios clinicamente relevantes para os pacientes nestas condições (6).
Pesquisas clínicas e os Guidelines mais recentes (6-10) mostram que PICS como Acupuntura, Meditação, Tai Chi, Qigong, Yoga e massagem são efetivas para o tratamento da dor lombar, fibromialgia e outras dores de origem osteomuscular. Na diretriz clínica da American College of Physicians (8), a acupuntura e a meditação Mindfulness para redução do estresse são fortemente recomendadas como primeira linha de tratamento na dor lombar crônica, juntamente com os exercícios físicos e a reabilitação multidisciplinar. Para o tratamento do indivíduo com fibromialgia, a European League Against Rheumatism (EULAR) (9) recomenda a realização de exercícios aeróbicos e de fortalecimento, Acupuntura, Qigong, Yoga, Tai Chi, meditação Mindfulness, dentre outros. Em indivíduos com osteoartrite de joelho, o The Ottawa Panel Clinical Practice Guidelines (10) recomenda práticas corporais como Yoga, Tai Chi e Qigong para melhora da dor, da função física e da qualidade de vida dos pacientes.
Além de algumas PICS possuírem resultados semelhantes, e até superiores, quando comparadas aos medicamentos anti-inflamatórios e analgésicos para o manejo da dor, elas também são consideradas mais seguras e menos iatrogênicas. Outro ponto que deve ser discutido é a limitação do tratamento medicamentoso de forma isolada para o manejo da dor, devido as pesquisas mostrarem que a magnitude dos seus efeitos é pequena e o nível de evidência é baixo.
No tratamento da dor lombar, o uso de Anti-inflamatórios Não Esteróides (AINEs) possui um resultado levemente melhor do que o placebo, não possuíndo relevância clínica (11-13).
O uso de medicamentos opióides também parece não possuir efeito superior ao placebo para esta condição de saúde, e na maioria dos estudos com resultados positivos os autores foram patrocinados pela indústria farmacêutica, revelando potenciais conflitos de interesse (14,15).
Neste contexto, a inclusão das PICS nos programas terapêuticos dos pacientes com dor pode contribuir para a melhora da resolubilidade dos serviços e custo-efetividade do SUS.
Assim, se você possui algum tipo de dor mas ainda não experimentou ser cuidado pelas PICS, procure a Unidade de Saúde ou o serviço mais próximo do seu bairro e busque se informar sobre os profissionais e práticas que são ofertadas na comunidade. Você verá que uma nova cultura de cuidado é possível, e provavelmente gozará de efeitos benéficos para sua saúde e qualidade de vida.
Referências
1. Barnes PM et al. CDC National Health Statistics Report #12. Complementary and Alternative Medicine Use Among Adults and Children: United States, 2007. December 2008.
2. Kemppainen LM et al. Use of complementary and alternative medicine in Europe: Health-related and sociodemographic determinants. Scand J Public Health. 2018 Jun;46(4):448-455.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC). Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
4. World Health Organization. WHO Traditional Medicine Strategy: 2002-2005. WHO: Geneva, 2002.
5. Brasil. Pesquisa nacional de saúde 2013 – percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Rio de Janeiro: IBGE, 2014.
6. Foster NE et al. Prevention and treatment of low back pain: evidence, challenges, and promising directions. Lancet. 2018 Jun 9;391(10137):2368-2383.
7. Pennick V, Liddle SD. Interventions for preventing and treating pelvic and back pain in pregnancy. Cochrane Database Syst Rev. 2013 Aug 1;(8):CD001139.
8. Qaseem A et al. Noninvasive Treatments for Acute, Subacute, and Chronic Low Back Pain: A Clinical Practice Guideline From the American College of Physicians. Ann Intern Med. 2017 Apr 4;166(7):514-530.
9. Macfarlane GJ et al. EULAR revised recommendations for the management of fibromyalgia. Ann Rheum Dis. 2017 Feb;76(2):318-328.
10. Brosseau L et al. The Ottawa panel clinical practice guidelines for the management of knee osteoarthritis. Part one: introduction, and mind-body exercise programs. Clin Rehabil. 2017 May;31(5):582-595.
11. Machado GC et al. Non-steroidal anti-inflammatory drugs for spinal pain: a systematic review and meta-analysis. Ann Rheum Dis. 2017 Jul;76(7):1269-1278.
12. Enthoven WT et al. Non-steroidal anti-inflammatory drugs for chronic low back pain. Cochrane Database Syst Rev. 2016
13. Enthoven WTM et al. NSAIDs for Chronic Low Back Pain. JAMA. 2017 Jun 13;317(22):2327-2328.
14. Schmitz J et al. Positive Treatment Expectancies Reduce Clinical Pain and Perceived Limitations in Movement Ability Despite Increased Experimental Pain: A Randomized Controlled Trial on Sham Opioid Infusion in Patients with Chronic Back Pain. Psychother Psychosom. 2019 Jul 12:1-12.
15. Tucker HR et al. Harms and benefits of opioids for management of non-surgical acute and chronic low back pain: a systematic review. Br J Sports Med. 2019 Mar 22. pii: bjsports-2018-099805.